Tem dia que tem manga, em outro dia tem morango. Tem dia que tem jaca, caqui, pêssego…Em outra época tem uva, tem maçã.
Quando estou em contato com a Natureza fica claro para mim que o que tem no dia é o que tem no dia. Se tem goiaba e manga, é isso que tem. Não adianta brigar com as árvores, com a terra, para que tenha amora…simplesmente, não tem! Não está disponível.
Um tempo atrás convidei uma amiga para passarmos uma tarde juntas. Ela me disse: “Ai Cá, melhor não, hoje não sou uma boa companhia, estou triste”. Perguntei para ela se estava presumindo que eu queria estar com ela de uma forma específica, por exemplo “só se ela estivesse feliz e contente”. Chegamos a diversas conclusões: ela queria se certificar que eu fosse também ouvida e cuidada e na situação que ela estava não iria rolar me dar nada além da dor dela. Precisava também de espaço para estar com essa dor e dependendo do que a gente decidisse fazer, o local poderia não contribuir. Enfim, vimos muitos outros pontos. Mas o que mais chamou minha atenção e que eu curti dessa situação foi a de criarmos a “séria brincadeira”: “o que tem pra hoje?”. E de combinarmos de estarmos disponíveis para o que a nossa terra interna está dando.
E desde então, quando nos falamos, brincamos: “Nossa amiga, hoje tem jaca, viu?”, “hum…um maracujá doce”, “mamão papaia”. E por aí vai…
E continuo me indagando sobre como lido com as plantas e comigo mesma e as pessoas a minha volta. Quando acordo e me lembro de me perguntar: “o que tem pra hoje?” E me permito checar o que de fato tem, o que de fato está disponível. Entrar em contato com a Natureza em mim e junto com isso me manter curiosa sobre meus estados, o que se passa em mim durante o dia. E essa brincadeira com as frutas vai me ofertando uma leveza nesse processo de ir me des-cobrindo. Como quando a gente olha pela primeira vez uma floresta e só vê floresta ou mato, e aí, observando, vai começando a nomear as flores, as árvores, os arbustos, vai enxergando mais.
Às vezes preciso aprender a olhar de novo aquilo que acho que conheço muito bem, porque muitas vezes está dando coisa nova e eu nem vi!
Às vezes, eu dou xuxu pela manhã e a tarde dou laranja…varia muito.Tem dias que estou praticamente uma agrofloresta!
Tenho curtido muito a possibilidade que essa forma de ver me trás: a de me permitir estar como estou, de aceitar a fruta que vêm, seja ela qual for. Às vezes é amaaaarga! Outras, tão doce. E não só a fruta que eu estou dando, também as que estão me ofertando. E que eu escolho receber, ou não.
Vale também lembrar que para cultivar e estarem disponíveis, as espécies de frutas estão conectadas com a terra, com o clima, se chove, se faz sol. E comigo parece que é assim também: o que tenho disponível para doar é altamente influenciado pelo contexto em que estou. Tenho gostado de olhar para o contexto e me perguntar se tenho adubo suficiente, se preciso de mais água ou menos água, de sol ou de cuidado humano.
Hoje uma querida amiga me escreveu contando o que ela tinha para hoje. Foi tão gostoso ler e reconhecer a importância que essa pergunta tem tido na minha vida. Agradeço por isso.